Ozymandias, sapos e a queda dos Líderes

Olá, Tribo 👋.

Hoje vou falar-vos de Ozymandias, sapos, quedas e de líderes.

Para evitar que caiam ou coloquem o pé em algum lago com sapos, sugiro que permaneçam imóveis e sentados nos próximos 7 minutos, enquanto desfrutam deste artigo. 🐸

Já dei umas quantas quedas, sobretudo quando era mais pequeno e brincava sem medo das consequências. Fora as quedas que os meus pais designavam de “abre olhos”, a mais grave de todas terá sido a vez em que rachei a testa e tive de levar 8 pontos.

(Se os meus pais tivessem usado o termo “abre testas” em vez de “abre olhos”, se calhar não teria esta história para contar!)

Lembro-me perfeitamente desse dia…

Tinha uns 5 ou 6 anos e estava felicíssimo porque tinha ido andar nos carrosséis. Com o entusiasmo em contar o meu dia aos meus primos, corri pelas escadas do prédio e, depois da partilha, enquanto descia as escadas a um ritmo supersónico tal e qual o The Flash, tropecei e caí em cheio no rodapé em mármore ligeiramente saído da porta.

Lembro-me perfeitamente do que se passou de seguida…

Fiquei praticamente cego com o sangue a escorrer pelos olhos e a pingar de vermelho o fabuloso e estiloso fato de treino verde com sapos que tanto adorava, e fui imediatamente transportado pela minha madrinha e pelo meu pai para o hospital, enquanto os meus primos choravam como duas Madalenas ao portão.

(Se perguntarem hoje aos meus primos, eles vão contar-vos esta história, com uma ligeira diferença: as lágrimas nunca serão mencionadas!)

Porque vos contei esta história?

Primeiro porque falo a verdade. Tal como a Irene Vieira Rua disse no Episódio #003 do Podcast Tribo de Líderes, também eu “digo o que faço e faço o que digo”.

Digo o que faço e faço o que digo porque assim fui educado e porque, se não o fizer, toda a confiança que demorei anos a construir irá dissipar-se. Disse-vos que vos ia falar de quedas e de sapos, está feito. Sou um homem de palavra.

Agora resta-me falar-vos de “Ozymandias” e de Líderes. Como vão ver, estão relacionados.

Ozymandias e a queda de Líderes

“Ozymandias” é um poema escrito por Percy Bysshe Shelley em 1817, que retrata a ruína e o colapso de um império e do seu líder, oferecendo uma profunda reflexão sobre o destino inevitável dos líderes e dos seus impérios.

A narrativa do poema é contada por um viajante que encontra os restos de uma estátua colossal no deserto. A estátua representa Ozymandias, um rei egípcio fictício que é uma metáfora para líderes e imperadores reais ao longo da história. No pedestal da estátua, há uma inscrição que diz: “O meu nome é Ozymandias, rei dos reis; Contemplai minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!“.

A ironia da história reside no contraste entre a grandeza proclamada pelo rei e a realidade encontrada pelo viajante: o império de Ozymandias desmoronou, a sua estátua está parcialmente enterrada na areia e as únicas palavras que ecoam são de desolação e abandono. O poema ilustra a efemeridade do poder e da liderança, bem como a insignificância dos feitos humanos diante da passagem inexorável do tempo.

Ora então porque vos trago isto?

Porque Ozymandias é uma metáfora para que todos os líderes se possam lembrar que independentemente do quão poderosos ou influentes possam ser, estão destinados a cair e a ser esquecidos pelo curso da história. Isso não é apenas verdade para governantes, mas também para líderes em todas as esferas da vida, sejam eles políticos, empresariais ou culturais.

A queda dos líderes é muitas vezes causada por uma série de fatores, incluindo mudanças políticas, económicas, sociais ou mesmo pela sua própria arrogância e excesso de confiança.

Ozymandias mostra-nos que a liderança é uma responsabilidade passageira, e aqueles que exercem poder devem fazê-lo com humildade, responsabilidade e uma compreensão do legado que estão a construir.

Isto é o que a Liderança deve ser: Ser sincero, humilde e responsável.

Só assim podemos evitar as quedas “abre testas”.

Já conheciam o soneto “Ozymandias”? Se ainda não, deixo-vos abaixo a versão traduzida e a versão original para se deliciarem. Espero que gostem.

Abraço, Tribo.

Sérgio Salino

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Ozymandias – Soneto traduzido para Português

Encontrei um viajante vindo de uma antiga terra

Que me disse: — Duas imensas e destroncadas pernas de pedra

Erguem-se no deserto. Perto delas, sobre a areia

Meio enterrado, jaz um rosto despedaçado, cuja carranca

Com lábio enrugado e sorriso de frio comando

Dizem que seu escultor soube ler bem suas paixões

Que ainda sobrevivem, estampadas nessas coisas inertes,

A mão que os escarneceu e o coração que os alimentou

E no pedestal aparecem estas palavras:

“Meu nome é Ozymandias, rei dos reis:

Contemplai as minhas obras, ó poderosos e desesperai-vos!”

Nada mais resta: em redor a decadência

Daquele destroço colossal, sem limite e vazio

As areias solitárias e planas se espalham para longe

Ozymandias – Soneto original

I met a traveller from an antique land

Who said:—Two vast and trunkless legs of stone

Stand in the desert. Near them on the sand,

Half sunk, a shatter’d visage lies, whose frown

And wrinkled lip and sneer of cold command

Tell that its sculptor well those passions read

Which yet survive, stamp’d on these lifeless things,

The hand that mock’d them and the heart that fed.

And on the pedestal these words appear:

“My name is Ozymandias, king of kings:

Look on my works, ye mighty, and despair!”

Nothing beside remains: round the decay

Of that colossal wreck, boundless and bare,

The lone and level sands stretch far away.

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