Hemingway, Escaravelhos e a Solidão Empresarial
“Mas que raio de título é esse?!” é uma pergunta muito válida para o artigo de hoje. Juntar Ernest Hemingway, escaravelhos e a solidão empresarial é tudo menos normal.
Mas, afinal de contas, quem é normal?!
Eu sei que não sou e, acima de tudo, não quero ser. Aliás, em relação a este tema, recomendo vivamente o livro do Gabor Maté e Daniel Maté: O mito do normal. Depois de o lerem, muito provavelmente vão pensar como eu.
Mas voltando ao artigo de hoje, vou tentar partilhar o que estas três “personagens principais” têm em comum e como as suas histórias se cruzam. Na minha cabeça, que é “estranha”, todas estão totalmente conectadas. Depois de lerem este conteúdo, digam-me se faz sentido esta visão.
Entretanto, antes de começar o artigo propriamente dito, deixo abaixo uma imagem em jeito de anúncio. Podem (e devem) clicar na mesma e, ao fazê-lo, irão ser transportados para um conteúdo épico!
Parece mentira, não parece? Prometo que não é. Aliás, quem o diz são os participantes do próprio curso…
Os nossos alunos são as melhores pessoas para vos dizer quão bom está o curso. Eles ou, já agora, a minha mãe. Podem também perguntar-lhe a meu respeito. Tenho a certeza que só vos dirá boas coisas. É uma excelente mãe.
E… Corta!
(terminado o anúncio)
Hemingway, escaravelhos e a solidão empresarial
Comecemos por Ernest Hemingway…
Para os mais desatentos, Ernest Hemingway foi um dos escritores mais influentes do século XX. Nasceu em 21 de julho de 1899, em Oak Park, Illinois, nos Estados Unidos da América, e faleceu em 2 de julho de 1961, em Ketchum, Idaho.
Hemingway começou a sua carreira como jornalista e correspondente de guerra durante a Primeira Guerra Mundial. A sua experiência como soldado influenciou fortemente a sua escrita, caracterizada por uma prosa concisa, direta e realista. Ele tinha um estilo único que se destacava pela sua economia de palavras e poder descritivo.
Entre as suas obras mais famosas estão “O Velho e o Mar“, “Por Quem os Sinos Dobram“, “O Sol Também se Levanta” e “Paris é uma Festa“. Foi premiado com o Prémio Pulitzer de Ficção em 1953 por “O Velho e o Mar” e recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1954 pela sua contribuição ao campo literário.
Hemingway foi conhecido por seu estilo de vida aventureiro e as suas viagens pelo mundo. Ele passou períodos significativos em Paris, Espanha, Cuba e continente africano, e essas experiências influenciaram a sua escrita. Os seus temas frequentemente exploravam a masculinidade, a guerra, o amor e a perda.
Ora, depois desta biografia de um dos melhores escritores de todos os tempos, há dois pontos principais que importa reter e que não foram mencionados acima.
Primeiramente, Hemingway enfrentou problemas de saúde mental e depressão ao longo dos tempos, acabando por tirar a sua própria vida, em sua casa, em 1961.
Segundo, devem conhecer a Lei de Hemingway.
Ambas vão ser importantes. Mas antes, deixem-me falar-vos de Solidão Empresarial.
Solidão Empresarial
Importa desde logo distinguir Solidão de Solitude.
Solitude é um estado de isolamento e reclusão. É uma situação em que a pessoa não está em contacto com outros indivíduos. Esse estado é geralmente decorrente de uma escolha pessoal.
Diferente da solidão, a solitude está associada a sentimentos positivos, à alegria de estar sozinho. Isolar-se voluntariamente pode ser uma forma de entrar em contato consigo mesmo, de fortalecer a autoconfiança e o amor próprio.
A solitude tem a ver com o equilíbrio entre estar sozinho e estar na presença de outras pessoas. Uma pessoa em estado de solitude desfruta dos seus momentos de isolamento, mas sabe que possui relações significativas e que pode contar com a companhia de outras pessoas.
Em suma, a solitude é um estado de isolamento voluntário e positivo, já a solidão é uma condição associada à dor e à tristeza. A solidão é um sentimento de vazio, é o desejo de ter a companhia das pessoas, mas não ter.
Do ponto de vista empresarial, a solidão é uma realidade comum enfrentada por muitos empreendedores. Ao iniciar e gerir um negócio, os empreendedores frequentemente se veem numa posição de responsabilidade e tomada de decisões que recaem sobre os seus ombros.
Eles enfrentam desafios únicos, como a pressão para ter sucesso, a incerteza financeira, a necessidade de assumir riscos e a procura constante por resolução de problemas.
Essa jornada empreendedora pode ser muito desafiadora e solitária. Muitos empreendedores têm que lidar com a pressão de liderar as suas equipas e, ao mesmo tempo, enfrentar decisões difíceis que podem afetar tanto os aspectos profissionais quanto pessoais das suas vidas. Eles podem sentir a falta de um apoio próximo ou de um grupo de colegas com quem possam compartilhar os seus desafios e preocupações.
O caminho para o sucesso é longo, árduo e demorado… E tudo isso pode suscitar questões e problemas tais como os enfrentados por Ernest Hemingway na sua vida.
Mas, como em tudo na vida, há esperança. E a esperança tem o nome de Lei de Hemingway.
Lei do Movimento de Hemingway
No módulo 10, com o nome “O Novo Mercado e Novos Modelos de Negócio“, do PFL – Programa de Formação de Liderança falo sobre muita coisa. Mas uma das mais importantes coisas que falo tem o nome de Lei de Movimento de Hemingway.
Ouvi pela primeira vez este termo pelo Pascal Finette e, desde que a ouvi, nunca mais a esqueci.
Primeiro porque também sou empreendedor e já senti muitas das dores acima descritas. Segundo porque isto é aplicado a tudo na vida.
Ora mas então o que é a Lei do Movimento de Hemingway?
No seu romance de 1926, “O Sol Também se Levanta“, as personagens de Hemingway têm a seguinte conversa:
“Como é que foste à falência?” perguntou Bill.
“De duas maneiras”, disse Mike. “Gradualmente e depois de repente.” (Gradually and then suddenly)
As nossas vidas estão cheias de pontos de viragem e a mudança nem sempre é suave e linear – especialmente a curto prazo, quando estamos a vivê-la. Se os resultados fossem proporcionais ao esforço, (quase) todos seríamos ricos, (quase) ninguém desistiria antes de atingir a meta, entre muitos outros.
Os resultados podem demorar muito mais tempo a aparecer do que esperamos… Isto porque alocamos muito tempo no início e, se não tivermos a capacidade de fazer “zoom out”, no dia a dia vai parecer que estamos no mesmo sítio. Mas é importante que se perceba que estamos, de facto, a crescer e que os resultados dos nossos esforços vão ser recompensados no futuro.
No entanto, é importante referir que não raras vezes os resultados surgem de forma repentina e exponencial… E quase sempre quando menos esperamos!
Esta é a magia da Lei do Movimento de Hemingway…
“Espera aí… Mas ainda não falamos de escaravelhos!” dizem vocês.
Têm razão. É agora altura de falarmos nesse incrível animal.
Escaravelhos, finalmente…
Os escaravelhos são seres extraordinários. Que os digam os egípcios que viam estes animais como um exemplo de vida eterna.
Assim como os empreendedores enfrentam desafios solitários, os escaravelhos também vivem vidas muitas vezes solitárias. Eles são criaturas resilientes que se adaptam a uma variedade de ambientes e encontram força dentro de si mesmos para superar obstáculos. Esses insetos pequenos, mas poderosos, podem ensinar-nos valiosas lições de liderança.
A quantidade de peso que os escaravelhos conseguem carregar é surpreendente. Apesar de seu tamanho, eles são capazes de empurrar e rolar objetos muito maiores e mais pesados do que eles mesmos. E, curiosamente, essa carga pode ascender até 300 vezes o seu peso em situações de stress! Essa capacidade de carga simboliza a força interior que os líderes precisam desenvolver para enfrentar os desafios empresariais. Assim como os escaravelhos, os líderes devem encontrar dentro de si a coragem e a determinação para carregar o peso das suas responsabilidades, mesmo quando parecem esmagadoras.
A carapaça resistente dos escaravelhos é outro aspecto importante. Essa estrutura protetora simboliza a necessidade de os líderes terem uma camada de resiliência para enfrentar os desafios e adversidades. Assim como os escaravelhos são capazes de resistir a impactos e proteger-se de ameaças, os líderes devem desenvolver a resiliência para enfrentar as pressões e desafios do mundo empresarial. É preciso lembrar que a carapaça dos escaravelhos não os torna invulneráveis, mas oferece proteção e a capacidade de se recuperar rapidamente de adversidades.
Além disso, a adaptabilidade dos escaravelhos é uma qualidade inspiradora. Esses insetos podem ser encontrados numa variedade de habitats, enfrentando condições diferentes. Eles adaptam-se às mudanças do ambiente e encontram soluções criativas para sobreviver. Da mesma forma, os líderes precisam ser flexíveis e adaptáveis num ambiente empresarial em constante evolução. Eles devem ser capazes de se ajustar às mudanças, procurar novas abordagens e encontrar soluções inovadoras para os desafios que surgem no seu caminho.
A conexão entre Hemingway, escaravelhos e a solidão empresarial
A conexão entre Hemingway, escaravelhos e solidão empresarial é notória.
Assim como os escaravelhos carregam o seu fardo e persistem na sua jornada, os empreendedores devem compreender que o sucesso muitas vezes vem de forma gradual e, às vezes, repentinamente.
A Lei do Movimento de Hemingway lembra-nos que o esforço e o crescimento contínuo, mesmo que não sejam imediatamente aparentes, são fundamentais para alcançar resultados significativos.
Os líderes devem estar preparados para ultrapassar períodos de solidão empresarial assim como períodos de crescimento lento, mantendo a confiança de que o trabalho árduo e a dedicação serão recompensados no momento certo.
Por fim, deixo uma reflexão que espero possa servir de referência.
A nossa vida pode ser uma 💩. Mas nunca se esqueçam que os escaravelhos vivem no meio dela e usam-na para sobreviver, aprender, crescer e, ainda, ajudar o ecossistema em que vivem.
Um abraço
Sérgio Salino
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